BeDuet

"Imaginemos um teatro do século XIX, tentemos também visualizar um clube noturno da bélle époque, ou um bar dos anos 40 em Nova Iorque. Pensamos automaticamente na dimensão sensorial e visual da música, na harmonia, na figuração do amor mas também no sentimento musicalizado como que uma nova língua, um novo signo, uma nova maneira de absorver e viver o Mundo - uma mudança – onde a música se torna numa experiência e a harmonia dá agora entrada ao improviso, à rutura e às reminiscências da experimentação. É um pouco o que sentimos, pela falta de melhores palavras, ao ouvir o albúm estreia deste grupo, em que toda a experiência com a música, em diferentes bandas e géneros, resulta numa simbiose sonora, onde o jazz é o herói. É, por vezes, difícil compreender como o Homem é dotado da capacidade de continuar a surpreender, mas a verdade é que somos provados vezes sem conta deste fenómeno dentro do panorama artístico, principalmente, e com grande orgulho, em Portugal. É notável a discreta inovação que os BeDuet trazem, repleta de uma delicadeza que, nunca cessando, se revolta contra a sua própria paz, uma e outra vez, quase mostrando uma certa ansiedade perante si, seguida de uma intensidade surpreendente que depois da explosão retoma, como um ser cansado, ao ninho seguro, tranquilo e sereno, embriagando-nos então de uma estesia intensa e apaixonante, tornando-se quase dolorosa. É uma dimensão que não cabe em palavras ou gestos - é um sentimento muito mais profundo e misterioso, muito mais relevante - é ritmo e vitalidade imateriais. As criações de Nuno Faria e Sérgio Neves são um daqueles raros encontros que ninguém ignora e jamais esquecerá pois o som absorvido na sua essência é-o também no seu inverso, no seu arquétipo mas também na sua sombra – uma surpresa do início ao fim.”
Eva Mendes